É a Verdade tão vil e tão matreira?
Uma carta de veneno e de diatribe?
Pois esta mesma carta então exibe
Uma asquerosa caligrafia de rameira?
Não maior nem menor beleza,
A diferença fica na caligrafia,
De um texto feito com a leveza
De um poeta ou de uma mulher fria...
Fria em sentimento, pois não tem
Direitos que lhe venham recorrer:
“Olhem! Ela tem direito a amar e viver
Como outra qualquer possui também.”
Quente? Quente, o seu corpo, dia
Após dia... O dia inteiro de fervor.
Ferve a água do banho que o palor
Do árduo serviço que a contagia
Esmorece! Este pálido langor...
Sim, esta vontade de dormir...
O descansar dos gatos que o labor,
No dia seguinte, vem pra discernir.
Separa o bem-aventurado do defunto.
Ó, beijo! Ó, ineficácia e inerte vivência,
Viva no féretro antro de seus dias, dormência,
Pois não contam dias ao presunto?
E largamos o nosso assunto primeiro...
Será a Verdade tão dama e tão senhora?
É verdade? Emaús que prove... Por ora,
Tenhamos-lhe como o retorno do Cordeiro...
Foi palco da verdade ou insana conveniência?
Conscientemente eu preparo um Deus a venerar...
E ponho os povos a crer e a acreditar,
Então, verdade seja dita, mentira é dependência...
O que era mentira agora é motivo para morrer e matar...