terça-feira, 9 de março de 2010

Entoação do Canto da Miséria

Verdes pastos que não dão boas colheitas,

Tifão lhe toca tudo quanto faz, mas por sede,

Sede secura que no mar não tem bem feitas,

Mas protegido está, como Eros, nesta rede...


Mas para mim sobra apenas Psique desventurada,

Pois do incesto, pecado do amor pele vaidade,

Veio ainda nascer a desconformidade misturada

À maior beleza ilusória que nos tem por verdade.


Nasce-me a miséria em fronte de Estética,

Tivera então estudado, os sábios, tal matéria

Ao invés de se aventurar por entre a Ética,

Doutrina menos relaxante e mais séria...


Tantos pavões e perus me encostam à parede,

Talvez este novo século que já se passa, tenha sede

De uma futilidade que não nos permite não pecar...


Talvez nossos pecados não se cruzem, existam no mundo

Inteligível, Platão os guia para o caminho do pensar,

E nós, por mais rasos, deixamos imergir de bem profundo...


Não tenho roupa que me cubra os pelos, andrajos vis

Que me cobrem o corpo servem-me com muito gosto...

Um dia vi, no álcool, uma dama que não tinha rosto,

Mas era tão bela, que descontrolado, logo, para mim a quis.


Maldito licor que me inebria as idéias... Talvez venha a deixar

Uma herança de histórias e tratados aos que me cercam,

Pois de tão pouco é o meu relógio, já batido, deixado no altar

Dos anjos que me repelem e dos demônios que me cercam...


Não me amei em ego, niponicamente em cinco pontos,

Pois não me achava à altura dos que tinham a certeza,

Axioma de “... Em ti tamanha é a perfeição, a beleza...”,

Com o vácuo oriental de histórias, poemas e mil contos.


Miséria! Ó, miséria que me acarreta a chaga e a doença,

Será que terei de curá-la, por mais que me negue – Oh! Verdade

Que me corta o peito em mil pedaços de vergonha e vaidade –

Na mais impura e desonrosa arte? Noutra doença? Na descrença...?


Atenciosamente,

Marcelo dos Santos

segunda-feira, 8 de março de 2010

Sátira de mim mesmo

Encontro-me em completo estado de inércia, nada sinto de positivo ou negativo... Realmente, neste momento, não sou feliz nem triste, mas infelizmente não posso me afirmar completo, pois muito me falta para completar o vazio, que percebo em momentos de reflexão, tão grande dentro de minha alma. Sei que estou inerte por estar cansado e não por ter encontrado o pleorema.

Sinto-me cada vez mais preso ao inverno de meus últimos dias, como se os dedos gélidos da morte me espreitasse o sono, trazendo-me a mente pesadelos inimagináveis, como se me quisesse torturado para mais resignado adentrar ao inferno das almas, maldita foi a minha vida, que de tão vazia, menos honrarias mereço na morte e coitados daqueles que rezarão pela salvação de minha alma, pois de nada irá adiantar e só o tempo irão perder e só as lagrimas deixarão verter.

Creio que esteja enlouquecendo, pois, hoje mesmo, uma amiga ter me visto falando sozinho, mas eu não recordo, sinceramente, de tal fato... Já tinha sido advertido anteriormente por outras pessoas, mas nunca dei muita importância a tal história, pois estas pessoas nunca me entenderam e não compreendem que, muitas vezes, não consigo pensar em silencio e o pensamente me escapa por entre os dentes. Pois tais pensamentos são fortes demais para que eu os possa prender em tão fraco cativeiro.

Não me sinto menos são do que me sentia alguns meses atrás, mas me sinto menos feliz e menos resignado... Penso que tive muitas perdas consecutivas. Confirmo em minha própria carne, em meu próprio espírito e em minha própria psique, que só se da o devido valor ao que se tem, quando se perde, pois não nos é permitido ao menos cogitar perder o que nos torna inteiro, a mente não nos daria esta possibilidade que, por mais preparatória fosse, mais dor nos traria a alma.

Trago aos sorvos o completo sentir de uma idéia nova, completamente renovadora, dentro de minha alma... Uma nova caminhada se inicia com o primeiro passo e, aos poucos, o espaço que percorro se mostra maior, mas não me veio à esperança de encontrar uma salvação, penso que, independente da doutrina que eu venha a pesquisar, não conseguirei mais do que meio versta em direção ao nada e ao esquecimento.

Sinceramente, digo que minha alma, se realmente a tenho, está completamente vazia...

Vejo o tempo passar enquanto a inércia me consome e eu volto a cair na derradeira depressão... O único sentimento que me faz seguir é a isenção, uma mistura de calmaria com resignação, mas que sem sombra de duvidas tende a terminar no derradeiro ato, ato que encerra a peça por completo, deixando alguns vagos personagens sem sentido... Sobram-lhes as lágrimas de uma peça sem espectadores.

E como diz a musica, vejo novamente o que já me foi posto à mesa, mas a esperança me foi tirada e o espaço que se encontra entre o meu prato e a fé se tornam cada vez mais longo, como se me negassem aquela escolha de prato, como se me negassem açúcar por ser diabético, como se me negassem o doce por ser criança e ainda não ter almoçado... A crença é a esperança e junto dela, tal por o ser, se distância gradativamente enquanto o tempo se esvai e tudo desmorona.

A aurora do meu fim, por mais estranho que isso aparente, se inicia com um apocalipse de emoções, penso que quando tiver coragem suficiente para acabar de sofrer, irei me debulhar em lágrimas de sangue e cal, minha carne se consumará com a plenitude e o caminho de uma vida inteira, por mais curto que ela pareça, valerá à pena.

E por falar em pena, a minha se encontra jogada sobre os entulhos de outra vida, de uma existência onde as pequenas coisas eram suficientes, onde os sonhos não se negavam a aparatar sobre a mente do escritor que vos fala... Tentarei não entoar o canto da miséria e da perdição, pois este já é deveras derradeiro em minha história, de modo que não se tornaria necessário revelá-lo, mas sendo ainda um escritor verdadeiro e sem medos, não me negarei a fazê-lo no futuro... Mas por enquanto...

Às vezes, por mais que tente resignar-me aos fatos, de uma maneira meramente psicológica – onde tudo se aceita e nada se questiona, tudo é o que é e assim o foi provado, de modo que não devemos questioná-lo – e me negue a ver os fenômenos, sempre me vem a pergunta sem resposta – não que está me seja a única que não possuo o desvendamento –: Porque continuo a escrever sem datar as minhas memórias?

Muito provavelmente a inércia é me atribuída à alma por monologar inconscientemente comigo mesmo... Falo muito e não faço nada e por não fazer nada falo muito... Uma mudança, não de caráter, mas de filosofia ativa me faria, muito provavelmente, ter um avanço ao sucesso de meu desenvolvimento mental... Pois até mesmo me engajar no niilismo me traria gosto, um niilismo ativo é uma morte gloriosa em sangue e honra... Seppuku aos sábios e sabedoria aos orientais que terminaram o nada pelo nada.

Então como convém terminar uma história, como podemos ensinar o que não sabemos, pois de tão pouco sabermos mais ficamos perecendo na duvida... O definhamento da preguiça é a vontade... Não me faltam vontades, mas me faltam preguiças, não que eu não veja deita num leito de plumas...

E, para todos que desejam ver o que se esconde por detrás da carcaça peluda de Deus... Ecce Home...

Atenciosamente,

Marcelo dos Santos