quarta-feira, 28 de abril de 2010

Obscuridade

O que se escreve quando não se tem nada para escrever? O que se escreve quando estamos vazios? O que se escreve quando a nossa inspiração se esvai e não deseja mais voltar? O que se escreve quando se sente um desejo árduo e pesado de escrever enquanto a inspiração nos foge por entre os dedos e a tinta da caneta falha?
Meu Deus! Devo orar? Acendo uma vela à Inácio Loyola ou Agostinho? Santos que com suas mãos grotescas de humano puseram as suas almas em folhas e em linhas. Meus santos de ocre devem sanar-me alguma dúvida? Meus santos de palha devem ungir-me de óleo sacro e beijar-me com seus lábios virgens?
Não sei mais escrever!
Hei de me abster da escrita até que ela me volte a iluminar! Oh! Estrela! Oh! Estrela da noite, Oh! Primeira estrela da noite! Faça-me voltar a inspiração e que de mim nasçam mil contos, mil romances, mil crônicas, mil tratados, mil ensaios, mil peças de teatro, mil novelas, mil sonetos, mil poemas desregrados, mil epopéias, mil histórias contadas, mil histórias sem fim...
Oh! Amém!

Atenciosamente,
Marcelo dos Santos

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Um dia atrasado

Outra data importante passada e nós, os poetas da regrada escola gótica, nos vemos presos ao tempo de uma esperada data que vai passada. Oh! Que seu corpo, já em pó, receba o tratamento dos vermes. Que sua alma seja aos céus levada, com um beijo de anjo à alvorada e um afago do vento em mil braçadas. Como um nadador que tenta se livrar da onda, em vão, pois a correnteza é forte e não a sua vontade. O seu desejo à vida é posto a prova e perde a claridade no primeiro instante de preguiça e vaidade. Deixai então a água ao teu pulmão inflar e o beijo do mar levar o teu coração.

Oh! Poeta imortal! Oh poeta que no dia 26 de abril, data parecida ao natal, veio a ser enterrado neste Rio, neste rio de poucos poetas... Neste nosso Brasil!

Meu poeta! Meu... Que Deus levou aos céus em 1852 e 140 anos depois, nasce um fã de sua arte, nasce em 1992...

À vós, meu poeta:

“In nihil ab nihil quam cito recidimus”

Todos nós sofremos do mesmo mal: a vida. Todos nós temos uma cura certa: a morte...

Sempre seu, meu bom poeta,

EU

Gosto e Odor

Minha cabeça arde em febre!
Meus olhos laqueados como o vidro verde e vermelho que forma a beleza das catedrais lacrimejam em constância e maciez. Sinto o doce aroma do nada. Um perfume de suor grotesco que os poros da Terra exalam. Febo o trouxe em sua carruagem e nos põe goela adentro. Febo nos trata como servos porque precisamos de seu calor para a vida, mas saiba que a vida humana é tudo. Para que Febo ou Daina existiriam se não fosse para embelezar a vista aos nossos olhos?

O cão tem o gosto pela arte?

O homem pode até ter gosto pelas fezes, mas não ignora a tradução harmônica de um padrão. Embora a besta traga gosto pela urina e pela desumanidade e não compreenda a inveja lunar pelo sol, seus olhos se queimam quando o olha...

Será que não percebe, meu bom Febo?

Não percebe que sem nós e as nossas preces à sua pessoa, não haveria de serem imortais os seus passeios?

Ah! Que gosto amargo tem os poros da Terra. Minha velha clepsidra conta o tempo e se engana nos minutos, mas que hei de fazer com o tempo correto? Posso ver o relógio parado e perceber que morrerei em um segundo mesmo que se passem séculos ou vê-lo enlouquecer e viver milênios em um segundo... Doce! Doce é o sabor amargo da inconstância.

Gosto de cheiro amargo!
Odor de gosto doce!

Mas, não importa, fiquemos com o tempo! Fiquemos com os relógios e os relojoeiros! Nossas almas não são pequenas, são? Se não, tudo vale a pena! Não foi o que disse o português?

E eu que vejo o amargo gosto na visão da claridade?

E eu que vejo a maciez da seda num copo de vinho?

Posso viver milênios, anos sem fim num só tempinho?

Se posso, que raios farei eu da eternidade?


Atenciosamente,

Marcelo dos Santos

Olhos de Vinícola

Que olhos! Olhos de pétalas que o sol mirrou! Sim! Eu vi estes olhos... Meus olhos? Sim! Meus... Que o sangue da chaga ao gosto viril da praga tragou. “Traz-me um copo de vinho!” O vinho dos gregos que pisam a uva e desmantelam suas doenças na bebida. Oh! O gosto seria menos doce se eles lavassem os pés?

Atenciosamente,

Marcelo dos Santos

Declínio

Há algum tempo atrás, eu estava a ler um livro e em seu verso vi escrita uma frase lhe outorgando algum respeito e dignificência. E o autor da frase - podem acreditar, meus amigos – era o jornal “The Times”. Agora eu penso: chegamos ao cúmulo do desrespeito?

Jornais não escrevem frases, escritores sim. Deveriam ao menos por o nome deste honorável ancião, não é?

Eu estou atrasado! Estamos todos atrasados? Sempre?

Eu odeio o tempo, o relógio. O tempo não será mera invenção? Não será o tempo uma borracha a ser dobrada e formulada a nossa vontade? Seria um gosto incomensurável moldar o tempo como um relojoeiro tenta, em vão, fazer! Algo como sempre ter tempo e nunca estar cansado! Cansado? Ler um livro inteiro em uma manhã de segunda e chagar a tempo de ver aquela merda, como o perdão da palavra, de computador rodar aquele troço que nos tampa o sol.

Eclipse?

A própria tecnologia é um eclipse. Ela matou os nossos gênios. Hoje o gênio é o cientista, o homem de branco, brincando com as maquinas. Rio incessantemente deste escárnio.

Deus é um grande cientista e nós um erro de calculo?

Se Deus existe, o que eu duvido veementemente, ele é um artista e nós uma mancha num quadro, uma vírgula no lugar errado. Dando mais ênfase e mais beleza a obra! Não são os erros e não os acertos os mais comentados quando a obra é grande?

O mundo está em declínio porque não temos mais Byrons, Wildes, Dostoievskis...

Deus está morto! A Ciência o matou.

Tão precária! Essa criança brincalhona não sabe onde está se metendo.


Atenciosamente,

Marcelo dos Santos

domingo, 25 de abril de 2010

O Retorno de Odisseu

Ah!
Como é bom voltar ao Lar... Voltar aos velhos hábitos... Pensei que não lembraria a senha desta espelunca...
E, para aqueles que desejem saber, a minha temporada no inferno foi ótima... Cercada de intrigas e lágrimas...
Meus olhos novamente abrem para o espectro de meus passados... Se bem me recordo, 9 de março foi um dia comum, meu passado perdido, dia em que postei último o meu entoar...
Ah! Que doce! Êxtase... Meu pulso pulsa convulso como o de vocês... Perguntem ao nosso querido dinamarquês, se duvidam de minha sanidade... O que há de errado em conversar consigo mesmo?

Faço este monologo a mim mesmo e aos meus... A algo de podre no reino do Brasil. Talvez seja o cheiro da política. Ou será o cheiro da mulher? Tanto faz! Tanto igual! O mesmo cheiro, o mesmo gosto, o mesmo mal.

Escolhe-se o tabaco ou a mulher? Pergunto-me porque não sou fumante. Desgraçado de meus ais, que não suportam o cheiro do cigarro...
Doce o meu escarro neste mal... Mas amargo o meu desejo pela carne...

Obrigado pela hospitalidade...
Voltei para ficar...

Atenciosamente,

Marcelo dos Santos