Minha cabeça arde em febre!
Meus olhos laqueados como o vidro verde e vermelho que forma a beleza das catedrais lacrimejam em constância e maciez. Sinto o doce aroma do nada. Um perfume de suor grotesco que os poros da Terra exalam. Febo o trouxe em sua carruagem e nos põe goela adentro. Febo nos trata como servos porque precisamos de seu calor para a vida, mas saiba que a vida humana é tudo. Para que Febo ou Daina existiriam se não fosse para embelezar a vista aos nossos olhos?
O cão tem o gosto pela arte?
O homem pode até ter gosto pelas fezes, mas não ignora a tradução harmônica de um padrão. Embora a besta traga gosto pela urina e pela desumanidade e não compreenda a inveja lunar pelo sol, seus olhos se queimam quando o olha...
Será que não percebe, meu bom Febo?
Não percebe que sem nós e as nossas preces à sua pessoa, não haveria de serem imortais os seus passeios?
Ah! Que gosto amargo tem os poros da Terra. Minha velha clepsidra conta o tempo e se engana nos minutos, mas que hei de fazer com o tempo correto? Posso ver o relógio parado e perceber que morrerei em um segundo mesmo que se passem séculos ou vê-lo enlouquecer e viver milênios em um segundo... Doce! Doce é o sabor amargo da inconstância.
Gosto de cheiro amargo!
Odor de gosto doce!
Mas, não importa, fiquemos com o tempo! Fiquemos com os relógios e os relojoeiros! Nossas almas não são pequenas, são? Se não, tudo vale a pena! Não foi o que disse o português?
E eu que vejo o amargo gosto na visão da claridade?
E eu que vejo a maciez da seda num copo de vinho?
Posso viver milênios, anos sem fim num só tempinho?
Se posso, que raios farei eu da eternidade?
Atenciosamente,
Marcelo dos Santos
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