segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Quimeras

Alma sonolenta emudecida,

És virgem em sentimento,

Não sabeis o que és a vida,

Não nasceu o pensamento.


Alma lasciva, intermitente,

Fria, dócil, monstruosa,

Vaga, pálida, morta, carente

De mais presença glamorosa.


Morreis enquanto mata o sentimento,

Matais, provais o doce verve quente,

O sangue que é amargo frio silente

E guarda mais sabor do beijo lento...


Corais alva face virgem mal-regrada,

Mostrai o Loki deus em que habita,

Colheis o amargo fel da terra arada,

Cegais o negro olho que te fita...


Não temeis o julgamento humano,

Provais que é imperfeita e imortal,

Provais do luxo morno que é profano,

Olhais com seu olhar aceso fatal...


Alma, não nasceu para viver sorrindo,

Nasceu apenas pra morrer sofrendo,

Sentindo a adaga quente lhe ferindo

E o sangue do seu corpo ao chão vertendo...


Não sofra o amargo destino que é imutável,

Queirais o beijo magno do vampiro,

Correis ao rubro braço forte inefável

Morreis sorrindo o seu último suspiro...


Ao menos terás a companhia dum defunto,

E eu que não terei companhia alguma?

Morrerei sozinho! Célula a célula, uma a uma...

“Por quê?”. Pergunto ao Deus! Pergunto...


sábado, 28 de novembro de 2009

Fetiches Noturnos...

Porque sempre à noite? Uma hora depois do crepúsculo começa, uma hora antes do alvorecer termina...

Porque sempre é na madrugada que passam os meus sonhos, contos e romances? O sol é tão mais belo, mas a bela frieza da lua, seu seio branco e liso feito porcelana, seu semblante de estatua... Tudo me fascina!

É como sentir o gosto morno do sangue seco na pele ferida da virgem que se mata... É como sentir o mundo cego, as íris brancas inemotivas dos olhos que não souberam aprender a ver...

Quando morrer, vai ser numa noite de luar materno e o incesto – meu romance com a mãe lua – vai acabar no momento em que o vampiro subir do inferno para provar meu sangue, me libertando, astuto, da embriaguez do absinto, me salvando da verdade, me mostrando o mundo ilusório das chacinas, das riquezas materiais, do gosto do sangue, da maciez de sua pele.

Vou ter um romance com o vampiro que me libertar, vou ser o seu eterno escravo e, se for mulher, provarei do cheiro doce de terra no seu cabelo, da claridade de sua pele de defunta, do gosto dos seus seios em minha boca, do seu pudor e o meu pudor como um só... Uma simbiose sem amor ou crença. Se for homem, seus grossos fios de cabelo serão por mim acariciados quando voltar da caçada, sua roupa será despida pelas minhas mãos, sua pele será afagada pela minha pele e, em seus banhos noturnos, compartilharei os mistérios da dor e da morte numa só mordida, num só beijo...

Não sou gay, mas a vida na morte me fascina e, se tivesse a chance de provar a eternidade mesmo que isso me custasse às matanças sem amor e a venda de meus princípios, faria sem balbuciar... Mentira! Balbuciaria e, tremendo, entraria em êxtase sexual, para que mais sentisse prazer, no momento da mordida...

Morro e renasço feliz... Uma falsa vida recomeça... Uma vida sem luz onde os vitrais das igrejas não colorem os bancos... Onde a única luz que se torna verdadeira é a artificial luz do neon e a parca crença em Jesus... Uma crença onde acredito que mesmo depois das chacinas o bom Senhor me perdoará e me acolherá nos altos céus onde habita... Uma crença onde o inferno vai apenas para os mortais que pecam... Pois os falsos imortais não crêem no pecado... O maior pecado é cometido apenas por amor a vida... Amor não, mas sim um fanatismo... Já dizia um sábio poeta: “Roma é a cidade do fanatismo e da perdição”. Preciso ir para Roma...


Atenciosamente!

UM SOFREDOR...

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Pós-sofrimento

Era uma noite erma e sombria, pouco iluminada pelas pálidas luzes da rua.

Para que luz numa rua onde nenhuma viva alma vai andar? Ninguém saberia responder, exceto a moribunda criança que se aproximava. Era um espírito sem morada rumando para a casa.

A criança, de alvo fundo nos olhos e íris completamente nula, entrou numa pequena casa de subúrbio. Era tão velha e decrépita que somente combinava com sua bolsa de senhora.

Quando a luz de um quarto acendeu, ninguém poderia acreditar: a menina, sem sua bolsa de senhora, tinha os cabelos em chamas, mas não se queimava. Só o sol lhe causava mais sardas no rosto, porém a lua a muito já havia nascido e ela não precisava se preocupar.

Seu reflexo era triste no espelho, as lágrimas não queriam parar o seu canto. E era uma melodia tão bela que até a orquestra não parava de balbuciar. Era um coração quebrado em plena arritmia.

A tristeza que ela sofria, todos que a tivessem olhado na face poderiam dizer, era a dor da solidão. Dor nenhuma é mais amarga e mais dorida. É uma dor que clama a morte.

Ninguém poderia adivinhar os motivos, nem pai, nem mãe. Todos só viam a criança vermelha tentando apagar sua chama com lágrimas.

Durante a madrugada, enquanto os cães domésticos dormiam e os gatos de rua estavam no ápice da orgia, a pobre criança moribunda levantou seu corpo da cama, foi até a cozinha, pegou de uma faca de corte fino, que corta maçã e banana, e lhe desferiu no pulso.

A criança vermelha nunca viu tanto vermelho em sua vida.

Atenciosamente!
Marcelo dos Santos

domingo, 22 de novembro de 2009

Lira de Natal

Eu relembro, era numa doce e singela

Noite de dezembro, era dia de Natal.

E, velada, pela luz da lua que não vela,

Estava uma canção tão doce e angelical.


Era mesmo, um som que ninguém ouvia,

Que não era vento assoviando na floresta,

Nem no bosque os faunos em sua festa

Pelo jubilo do infante que renascia...


Eram os versos em línguas proclamados,

Mas a lira que tocava era das nuvens

Os símbolos que mais pareciam penugens

De um cantor cantando aos apaixonados...


Não duvido que a divina providência

Tenha mandado um anjo vir cantar

O aniversário do rei da terra e do mar,

O irmão da Sabedoria e da Consciência.


Muito demorou para que conhecesse

O foco que tinha a doce melodia,

Pois era tão ébria a sua cantoria

Que ELE, só se deixaria mostrar a quem merecesse


Era o próprio, dos cantores o mais celestial,

Que tem em sua boca o mais doce mel.

Era o imã do bem que destruía todo o mal,

Era o de voz mais doce! O anjo Israfel...


Atenciosamente!

...


A Borboleta Negra

Que beleza és esta que em meio-dia viste?

És uma canção em formas animais

Ou um verso de amor que se tornou triste?

Um verso de amor que não existe mais?


Mas tem forma voadora de beleza

E em suas asas falsamente coloridas

Só reconheço a dor da tristeza

E as negras carrancas embrutecidas...


Por que voa tão triste e sozinha?

Porque voa depressa e não caminha?

Aliás, quem és? Qual és teu nome?


És um anjo decaído que se consome?

És um meigo anjo que é forte

Ou és tu, negra borboleta que anuncia a morte?