FILHO:
Que é que festejamos hoje? O dia
É o dia que criamos. Homens somos
Para montarmos o calendário. Dia a dia
E noite a noite seremos, somos, fomos.
Mais um dia e qualquer besteira?
Talvez um pouco mais de gentileza!
Hoje é dia de grandes amores. Grande Beleza.
É dia da clientela da parteira.
Hoje lembramos sangue e não choramos,
Mas choramos quando lembramos o que não temos.
Somos o que somos, ela faz o que seremos,
Tal qual as três mestras do destino. Amamos
Mais do que pensamos. Pensamos muito pouco nela,
Mas ela há de pensar sempre, desde a Gólgota ao cabo da panela.
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Nascem como outros, igual a todos e sempre o mesmo fim.
Choram muito e choram pouco: tristes, más, alegres e bondosas.
Temos por substituta um conto de fadas, onde as fadas são bruxas horrorosas.
Temos histórias que acabam nas rosas vermelhas, manchando de sangue o jardim.
Não chorem se não a tiverem do seu lado!
Não chorem se a enfermidade às assola!
Hão de ser sempre iguais! O mesmo fado,
Somente velhas... Vai passando a hora.
Não chorem, pois elas já choram por demais...
Riam das rugas que vão se formando,
Cheirem uma rosa nova e esqueçam a que está murchando
E permitam ao corvo o seu “Nunca mais”.
Nunca mais haverá tristeza na velhice,
Nunca mais as rugas atrapalharão caminhos...
Ruga não é sabedoria, é crendice...
Deixem-nos caminhar sozinhos.
Amor não é prisão, é liberdade. O coração é feito para agüentar saudade...
Atenciosamente,
Eu
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