terça-feira, 7 de setembro de 2010

Delírio à Demócrito

Fecho os meus olhos na brisa suave da chuva e quando os abro, o torvo espectro da noite os embala, tal qual o som do alaúde embalsamado no gosto da lua... Ao menos o centro dessa noite está presente, muito diferentemente do sol, que não nos deu o ar da graça. Tal qual tivesse alguém batido a minha porta, tal como o verso que exorta o poeta a outro verso criar... E tal como os ponteiros do meu relógio de pulso – que não é meu, mas de meu pai – os segundos continua a passar, continuo também a respirar. Mas não com hálito de vivo e sim com a rigidez da morte. Como o processo que o corpo decompõe e que as proteínas, fétidas, exalam seu gosto de verme. A autólise de todos os finais, iniciada na bexiga do morto e terminada na acidez alcalina da putrefação.

Império dos vermes... Império dos vermes... Sibaritas do último refinamento, provando do inverso ao gosto, todo já digerido... Notórios, néscios na virgindade do solo... Eu volto resoluto à minha noite, onde o véu de estrelas já não as possui... E Eu volto resoluto ao réquiem do sono, que não me possui...

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