quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Angústia

Eu vejo, por entre os fios de força presos aos postes, as arvores fremirem sob as intempéries. Vejo-as dançarem ao som dos ventos; e as suas copas balançarem como as multidões espectadoras de uma música calma. As nuvens também a ouvem, e tapam o céu com seus corpos opulentos, com suas massas assustadoramente escuras. Mas o sol não aparece; e isso torna tudo mais acessível, mais aceitável.

A tarde é tão calma, o dia tão límpido – entre a chuva que passou e a expectativa da próxima – e eu espero, quase angustiado, querendo, mas não podendo, fazer algo... Algo que nem bem sei o que é, algo que poderia ser... Queria assistir a morte de um inseto, sentir o cheiro do fósforo sem que ele impregnasse a candura da minha cozinha.

Eu temo... Tremo! Receio, ao passo que o asco de mim se apodera e alardeia todos os meus sentidos. Sinto a morte daquela vida em mim, sinto-a se esvaindo, seus nervos se retorcendo, suas antenas enviando mensagens de dor, mas não sofro. E por isso temo, temo pela extinção dos meus próprios anseios. A mágoa, a lástima de mim se contrapõe. Nega as minhas vontades racionais, para agir por ordens inferiormente compulsivas, sentimentais.

Eu amo, eu peco... Deixo de ver o que está diante dos meus olhos, para esperar – e que pecado poderia ser pior? – uma visão mais pacificadora. Deixo que a veracidade seja posta acima da dúvida... E neste momento peco mais ainda... Peco até quando digo estar pecando... Hediondo, alarmante, assombroso, hórrido... E até, de certo ponto, depravado.

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