domingo, 7 de novembro de 2010

Máximas extemporâneas

O segundo olhar que damos ao abismo é sempre menos impressionante, a vertigem quase passa e o som da voz que dele saí chega até a ser reconfortante. Não nos olhamos no espelho mais do que uma vez ao dia quando passamos a nos conhecer, pois das rugas da face à cor opaca dos olhos, não nos nutre sentido, os sentidos, em reler um livro com o mesmo conteúdo... Deixemo-lo envelhecer, amarelar as páginas, cingi-las de bolor, para que só assim voltemos para contemplá-lo. Não como um livro já lido, mas como uma obra de arte que nos tem a oferecer mais do que contém nas páginas.

Negamo-nos a reconhecer as partes a fim de proteger o todo. Como quando perante uma escolha, preferimos antes o ter do que o ser... E seguimos acumulando zeros... Guardando-os nas nossas caixinhas imaginárias de beleza... A seguir, matizamos os seus cadeados com o glitter purpúreo dos grãos de papoula... Apagamos então a imagem do que fomos, máxime para dissimular um novo ídolo, uma nova e mais hedionda iconofilia.

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